domingo, 10 de setembro de 2017

O tempo em que ouvir rádio dava cadeia


Por LAURA MATTOS

Foi em 23 de abril de 1923, que Roquette Pinto fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira emissora do país. Foi também o dia em que passou a arrumar uma bela encrenca com o governo.

Àquela época, as transmissões radiofônicas eram armas estratégicas do poder público. As ondas de rádio haviam sido utilizadas na Primeira Guerra, para a troca de mensagens entre as tropas, e seria quase lunático imaginar seu uso para a comunicação de massa.

No Brasil, a primeira transmissão havia sido um discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa, no dia 7 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da Independência.

Até a fundação da emissora de Roquette Pinto, no entanto, não havia qualquer lei de radiodifusão no país. E quem fabricava seu próprio aparelho para tentar captar as ondas ainda experimentais era levado à cadeia pela polícia.

Por isso, o fundador da Rádio Sociedade teve de convencer o governo a regulamentar a atividade e lhe conceder licença para operar. E foi no dia 7 de setembro novamente, um ano após a primeira transmissão, que sua estação passou a operar regularmente.

Essa e outras histórias dos primórdios do rádio estão na edição 56 da "Revista USP" 

Os detalhes da fundação da emissora de Roquette Pinto são relatados em artigo assinado por sua neta, Vera Regina, que se formou radialista pela Universidade de São Paulo e trabalhou por mais de 20 anos na TV Cultura.

Ela fala sobre a resistência que o avô enfrentou no governo Getúlio Vargas na tentativa de transformar em meio de educação o veículo que havia ajudado a criar.

Vera narra também encontro que teve com Roquette Pinto, já doente, no fim da vida. O rádio vivia sua era de ouro e a TV acabava de chegar ao país. Ele, claro, já tinha um televisor em casa e, apontando para o aparelho, disse à neta: "Olha, minha querida, que belo meio para educar nosso povo".

Ao abordar a trajetória do rádio nos seus 80 anos, a publicação da USP, obviamente, não poderia deixar de falar do nascimento do jabá (execução paga de música).

Texto de Luiz Carlos Saroldi, radialista, dramaturgo e pesquisador musical, relaciona a origem dessa operação com o início da hegemonia comercial da TV: "A dependência da música enlatada abriu caminho à promoção de sucessos indicados pelas gravadoras, através do "play-list". Resta aos independentes, na maioria dos casos, pagar ou correr".


FONTE: FOLHA

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