quinta-feira, 5 de abril de 2018

As Radionovelas no Brasil


Que os brasileiros são loucos por novelas, não é segredo para ninguém. Mesmo assim, tem muita gente que tem vergonha de admitir que acompanha os capítulos das produções televisivas, mesmo que na hora da novela esteja grudadinho na televisão. E o sucesso das novelas produzidas pela Rede Globo é tão grande, que atravessa o oceano e vai contagiar vários países da Europa.
A telenovela pode ser considerada uma produção nova, descendente de um outro grande sucesso, a radionovela, que claro, começou quando ainda não existiam aparelhos de televisão e o rádio sim, era uma grande novidade tecnológica.


A principal característica da radionovela é o seu tipo de narrativa, definida como “narrativa folhetinesca”. Na época da radionovela era preciso passar toda a emoção, que hoje vemos na tela da televisão, para quem estava em casa, somente através dos sons. E era um sucesso absoluto, a produção é considerada uma das responsáveis pela chamada época de ouro do rádio.
O auge das radionovelas aconteceu um pouco antes da entrada da televisão em cena. Nessa época, as rádios possuíam uma excelente equipe de atores e principalmente de sonoplastas, responsáveis pelos efeitos sonoros, que faziam quem estava em casa sonhar. Um dos principais nomes da sonoplastia foi Urgel de Castro, que trabalhava na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

A História da Radionovela no Brasil

Entrava no ar a primeira transmissão de rádio no Brasil em 1922, exatamente no dia 7 de setembro. No início, o aparelhinho atualmente tão esquecido, era uma raridade, somente famílias com muito dinheiro podiam se dar ao luxo de ter um em casa.
Quando rádio se tornou mais popular, com um preço mais acessível, nasceram as primeiras radionovelas, inspiradas na dramatização das tramas literárias. No início, era muito comum que fossem realizadas a radiofonização de uma peça teatral, que começavam e terminavam no mesmo dia. Na Rádio Nacional, por exemplo, todos os sábados tinha um programa chamado “Teatro em Casa”.
A primeira a criar uma história que durava mais de um dia, isto é, seriada, foi Amaral Gurgel, era chamada de “Gente de Circo”, em 1941. E foi na década de 40, que as radionovelas passaram a fazer parte da programação das rádios, a Rádio São Paulo foi uma das que mais produziu esse tipo de programa. Os roteiristas mais importantes da época eram: Olegário Passos, Menotti del Picchia, Augusto Vampré e Alfredo Palacios.
Porém, aquela que pode ser considerada uma radionovela, a primeira do gênero no Brasil, foi produzida pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, o nome era “Em busca da Felicidade”. Se tratava de uma adaptação de um texto cubano feita por Gilberto Martins. Além dessa produção, outras duas são consideradas um marco do rádio brasileiro: Fatalidade de Oduvaldo Vianna e Mulheres de Bronze inspirada em um folhetim francês.
Por muito tempo, as radionovelas brasileiras não tinham um texto exclusivamente criado para produção, eram adaptações de folhetins de outros países, como por exemplo, “O Direito de Nascer”, que foi um grande sucesso. A produção era uma adaptação de um texto do cubano Félix Caignet e tinha uma outra particularidade, a duração, ela foi ao ar por 3 anos.
Uma das radionovelas de criação 100% nacional e que fez grande sucesso, sendo posteriormente adaptada para televisão, foi “Jerônimo, o Herói do Sertão”. O folhetim radiofônico foi criado por Moysés Wetman, no ano de 1953. As aventuras do personagem Jerônimo foram transmitidas em nada mais nada menos do que 96 radionovelas.

Os Grande Nomes da Radionovela Nacional

Alguns nomes merecem destaque na produção de radionovelas no Brasil, são eles: Gilberto Martins, Amaral Gurgel e Oduvaldo Vianna. E mais os autores: Mário Lago, Dias Gomes, Janete Clair, Mário Brazzini, Ivani Ribeiro, Alfredo Palacios e G. Alves.
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi a grande referência para as radionovelas no Brasil, de 1941 a 1959, foram transmitidas pela emissora, 807 produções feitas por 118 autores. Desses profissionais, 23 foram os escritores de 71,6% das novelas da Rádio Nacional. Veja os nomes mais importantes e quantas radionovelas cada um deles criaram:
  • Oduvaldo Vianna fez 75 radionovelas.
  • Gastão P. Silva fez 75 radionovelas.
  • Carlos Gutemberg fez 64 radionovelas.
  • Raimundo Lopes fez 31 radionovelas.
  • Amaral Gurgel fez 30 radionovelas.
  • Ghiaroni fez 28 radionovelas.
  • Eurico Silva fez 28 radionovelas.
  • Cícero Acaiaba fez 24 radionovelas.
  • Otávio Augusto Vampré fez 21 radionovelas.
  • Mário Brassini fez 20 radionovelas.
  • Hélio do Soveral fez 18 radionovelas.
  • Dilma Lebon fez 18 radionovelas.
  • Dias Gomes fez 16 radionovelas.
  • Mário Faccini fez 16 radionovelas.
  • Luiz Quirino fez 16 radionovelas.
  • Ivani Ribeiro fez 16 radionovelas.
  • Herrera Filho fez 15 radionovelas.
  • Janete Clair fez 13 radionovelas.
  • Gilberto Martins fez 12 radionovelas.
  • Saint-Clair Lopes fez 11 radionovelas.
  • Walter Foster fez 10 radionovelas.
  • Moysés Weltman fez 17 radionovelas
  • Álvaro Augusto fez 10 radionovelas.      

  • O Fim da Radionovela
    Dá para imaginar que com a chegada da televisão a radionovela, e não só ela, o rádio também, perdeu o prestígio e os ouvintes para a novidade. E claro, as verbas publicitárias, os comerciantes estavam mais interessados em investir na televisão e ficou difícil, para as rádios continuarem a produzir as radionovelas, que tinham um custo bem alto.
    Até a década de 1960, algumas rádios ainda conseguiam fazer radionovelas, mas resistiram até os primeiros anos de 1970, quando acabou de vez com o gênero radiofônico. Nesta época, grande parte das radionovelas começaram a ser refeitas para televisão.
    Os Segredos das Radionovelas
    Era preciso muita criatividade para criar os sons necessários que fizessem com que os ouvintes entendessem o que estava acontecendo na radionovela. O fogo e a chuva por exemplo, eram feitos com o mesmo recurso, papel celofane amassado, que devia ser feito lentamente e bem perto do microfone. Claro, que exigia uma certa prática para fazer dois sons distintos.
    Uma outra curiosidade sobre as novelas do rádio é que elas não tinham uma duração praticamente fixa, como existe hoje nas produções televisivas. Elas poderiam durar 2 meses, mas também chegavam a 2 anos. A mais longa durou 3 anos e foi “Direito de Nascer”. Cuba era um país que exportava muitas radionovelas, inclusive para o Brasil, a primeira produção do país foi em 1931.
    As radionovelas eram feitas pensando no público feminino, o que fazia atrair os anunciantes interessados em vender os seus produtos para esse tipo de consumidor. Em 1944, uma pesquisa revelou que 69,9% de quem ouvia a radionovela transmitida na parte da manhã eram as mulheres, seguidas dos homens, 19,5% e das crianças, 10,6%.
    FONTE: CULTURA MIX
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