A radiodifusão no Brasil está associada ao nome do carioca Edgard Roquete Pinto. Médico, antropólogo, poeta e professor, Roquete Pinto dedicou a vida à radiodifusão, tanto do ponto de vista técnico quanto no que dizia respeito à programação radiofônica.
Nascido em 25 de setembro de 1884, foi criado numa fazenda em Minas Gerais até os dez anos, retornando então com os pais ao Rio de Janeiro. Em 1912, já formado em Medicina, passou a acompanhar o sertanista Cândido Rondon em excursões ao Mato Grosso, com o objetivo e o prazer de desvendar a cultura interiorana brasileira.
O ano decisivo na vida de Roquete Pinto foi 1922. Naquele ano comemorou-se o primeiro centenário da Independência do Brasil. O Rio de Janeiro, antiga capital federal, abrigou uma grande feira internacional e recebeu a visita de empresários americanos que queriam demonstrar os avanços da radiodifusão, o grande destaque da época nos Estados Unidos.
Para demonstrar o funcionamento do novo veículo de comunicação, os americanos instalaram uma antena no pico do morro do Corcovado, onde hoje se encontra a estátua do Cristo Redentor. A primeira transmissão radiofônica no Brasil foi um discurso do presidente Epitácio Pessoa, que foi captado em Niterói, Petrópolis, na serra fluminense e em São Paulo, onde foram instalados aparelhos receptores. A reação de Roquete Pinto àquela "sucessão de maravilhas" foi: "Eis uma máquina importante para educar nosso povo".
A primeira emissora radiofônica
Após a experiência da primeira transmissão radiofônica no Brasil, em 1922, Roquete Pinto tentou, sem sucesso, convencer o governo federal a comprar todos os equipamentos apresentados pelos norte-americanos na Feira Internacional realizada no Rio de Janeiro.
Felizmente para as comunicações em nosso país, Roquete Pinto não desistiu e conseguiu convencer a Academia Brasileira de Ciências a fazê-lo. Estavam criadas as condições que fizeram surgir a primeira emissora do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923 e comandada por Roquete Pinto.
Naqueles tempos, para ser um ouvinte era preciso cadastrar-se junto à emissora, adquirindo um equipamento para ouvir a programação em casa.
Roquete Pinto vence a batalha contra a censura
Em 1936, os aparelhos de rádio já podiam ser comprados em lojas especializadas. Nesse mesmo ano, a Sociedade Rádio do Rio de Janeiro foi doada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), cujo titular de então era Gustavo Capanema. Este comunicou que a antiga Rádio Sociedade seria incorporada ao temido Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão responsável pela censura durante o Estado Novo do presidente Getúlio Vargas.
Roquete Pinto não só ficou indignado com a proposta de incorporação ao DIP como exigiu a autonomia da emissora, com o objetivo de preservar a sua função essencialmente educativa. Roquete Pinto ganhou a disputa e até hoje a rádio MEC mantém o mesmo ideário. Consta que ao se despedir do comando da emissora que fundara, sussurrou chorando ao ouvido da filha Beatriz: "Entrego esta rádio com a mesma emoção com que se casa uma filha".
O precursor da radiodifusão no Brasil foi também membro da Academia Brasileira de Letras e um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro. Não acumulou riqueza. Gostava de fazer piqueniques com a família em um terreno adquirido na Barra da Tijuca e de escrever alguns pensamentos, como a definição que se segue a respeito do veículo de comunicação pelo qual tanto fez: "O rádio é o jornal de quem não sabe ler, é o mestre de quem não pode ir à escola, é o divertimento gratuito do pobre".
Roquete Pinto faleceu em 18 de outubro de 1954.
FONTE: ATICA EDUCACIONAL