Entre os 2.000 torcedores no ginásio Panela de Pressão, em Bauru,
interior de São Paulo, para ver o primeiro jogo da semifinal do NBB (liga
nacional de basquete) do time da casa contra o Paulistano, na
última segunda-feira (30), um se destacava.
Thiago Augusto Oliveira, 25, acompanha tudo com o ouvido colado no
radinho de pilha. Ele é cego desde que nasceu. Mesmo sem poder assistir às
jogadas do time, é um dos torcedores mais fanáticos do Bauru Basket,
integrando uma das torcidas organizadas da equipe, a Fúria.
Ele vai a todos os jogos em Bauru e já viajou para acompanhar o time de
coração algumas vezes.
Seus “olhos” são o narrador e jornalista Rafael Antônio, da rádio JP News
Bauru.
Oliveira acompanha lance a lance pela narração via rádio, vibra a cada cesta
e até dá palpites sobre a tática do time dentro de quadra.
“Eu arrepio a cada lance do Bauru. O Rafael é meus olhos, eu acredito em
tudo o que ele fala e consigo imaginar como é o jogo com a narração dele”,
conta Oliveira, que vai aos jogos do time desde 2012.
“É legal porque o Thiago pode sentir o clima do jogo dentro do ginásio e ter a
real noção do que está acontecendo na partida”, diz o narrador.
Thiago não tem lugar especial no ginásio. Assiste aos jogos no meio da
torcida “Fúria”. Fica em pé, assim como os companheiros da organizada. E
não mede palavras para falar dos atletas preferidos.
“Eu fico bravo quando falam mal do Jaú. Ele é meu ídolo. Joga muito”, diz
Oliveira, sobre o ala/pivô Gabriel Jaú.
Quem o levou ao primeiro jogo foi o amigo de infância Lucas Rocha,
jornalista que também faz parte da equipe de Rafael Antônio.
“Eu via o quanto ele gostava do jogo e a dificuldade que a família tinha para
levá-lo. Um dia, decidi passar na casa dele e buscá-lo para um jogo in loco”,
afirma.
O torcedor fanático coleciona histórias dos jogos que testemunhou. A que ele
mais gosta de contar é quando o Bauru ganhou do Paulistano, em 2017, para
ficar com o título.
O jogo foi em Araraquara, cidade vizinha. Ele viajou com uma caravana de
torcedores. Quando a partida terminou, a torcida invadiu a quadra e ele ficou
sozinho na arquibancada. Mesmo sem enxergar, Oliveira não pensou duas
vezes: fez o mesmo.
“Eu senti que tinha uma cadeira perto da grade. Aí, eu subi na cadeira e
consegui pular a grade para entrar na quadra. Ainda bem que a grade era
baixinha. Eu não podia ficar para trás e tinha que comemorar”, afirma, com
um sorriso largo no rosto.
No primeiro jogo da semifinal deste ano deu Paulistano: vitória por 78 a 72.
O torcedor, no entanto, não desanimou para as próximas partidas. “Eu
acredito no meu time”.
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO