segunda-feira, 7 de maio de 2018

Torcedor cego acompanha jogos de basquete no ginásio com ajuda de rádio


Entre os 2.000 torcedores no ginásio Panela de Pressão, em Bauru, interior de São Paulo, para ver o primeiro jogo da semifinal do NBB (liga nacional de basquete) do time da casa contra o Paulistano, na última segunda-feira (30), um se destacava. 

Thiago Augusto Oliveira, 25, acompanha tudo com o ouvido colado no radinho de pilha. Ele é cego desde que nasceu. Mesmo sem poder assistir às jogadas do time, é um dos torcedores mais fanáticos do Bauru Basket, integrando uma das torcidas organizadas da equipe, a Fúria. 

Ele vai a todos os jogos em Bauru e já viajou para acompanhar o time de coração algumas vezes. 

Seus “olhos” são o narrador e jornalista Rafael Antônio, da rádio JP News Bauru. 

Oliveira acompanha lance a lance pela narração via rádio, vibra a cada cesta e até dá palpites sobre a tática do time dentro de quadra. 

“Eu arrepio a cada lance do Bauru. O Rafael é meus olhos, eu acredito em tudo o que ele fala e consigo imaginar como é o jogo com a narração dele”, conta Oliveira, que vai aos jogos do time desde 2012.

“É legal porque o Thiago pode sentir o clima do jogo dentro do ginásio e ter a real noção do que está acontecendo na partida”, diz o narrador. 

Thiago não tem lugar especial no ginásio. Assiste aos jogos no meio da torcida “Fúria”. Fica em pé, assim como os companheiros da organizada. E não mede palavras para falar dos atletas preferidos. 

“Eu fico bravo quando falam mal do Jaú. Ele é meu ídolo. Joga muito”, diz Oliveira, sobre o ala/pivô Gabriel Jaú. 

Quem o levou ao primeiro jogo foi o amigo de infância Lucas Rocha, jornalista que também faz parte da equipe de Rafael Antônio. 

“Eu via o quanto ele gostava do jogo e a dificuldade que a família tinha para levá-lo. Um dia, decidi passar na casa dele e buscá-lo para um jogo in loco”, afirma.

O torcedor fanático coleciona histórias dos jogos que testemunhou. A que ele mais gosta de contar é quando o Bauru ganhou do Paulistano, em 2017, para ficar com o título. 

O jogo foi em Araraquara, cidade vizinha. Ele viajou com uma caravana de torcedores. Quando a partida terminou, a torcida invadiu a quadra e ele ficou sozinho na arquibancada. Mesmo sem enxergar, Oliveira não pensou duas vezes: fez o mesmo. 

“Eu senti que tinha uma cadeira perto da grade. Aí, eu subi na cadeira e consegui pular a grade para entrar na quadra. Ainda bem que a grade era baixinha. Eu não podia ficar para trás e tinha que comemorar”, afirma, com um sorriso largo no rosto. 

No primeiro jogo da semifinal deste ano deu Paulistano: vitória por 78 a 72. O torcedor, no entanto, não desanimou para as próximas partidas. “Eu acredito no meu time”.

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO


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