Os carros e a rádio AM estão juntos há muito tempo, mas a
estrada que aguarda esses velhos companheiros de viagem se bifurcou nos Estados Unidos. Os motores elétricos que propiciam velocidade superior a 240 km/h
(quilômetros por hora) ao Tesla e permitem que o Chevy Bolt rode 380
quilômetros com apenas uma carga matam completamente a recepção de
rádio AM. Em lugar de esportes, notícias, ou canções nostálgicas, os carros
elétricos recebem apenas estática.
As montadoras de automóveis estão em uma corrida desabalada rumo a um
futuro eletrificado, e rádios AM estão ficando pelo caminho.
Uma porta-voz da General Motors disse que a GM estava ciente da questão
quanto ao Bolt, e que havia “tomado providências”, mas se recusou a dizer
exatamente quais.
O problema, dizem especialistas, é que os os motores dos veículos elétricos
geram frequências eletromagnéticas do mesmo comprimento de onda que os
sinais das rádios AM. Isso cria ruídos e perda de sinal, por conta da
interferência eletromagnética.
“Você tem dois sinais que literalmente colidem um com o outro e se
cancelam, antes mesmo que a antena receba o sinal”, disse Brian McKay,
diretor de inovação de motores e tecnologia na unidade americana da
fabricante de autopeças alemã Continental.
À medida que os motores dos veículos elétricos ganham potência, cresce a
estática que geram para as rádios AM. “O problema está se agravando”, disse
McKay.
Em lugar de resolver as queixas quanto à baixa qualidade de recepção,
algumas montadoras, entre as quais a BMW, removeram os rádios AM de
seus veículos elétricos. A Honda já não os oferece no seu híbrido elétrico
Acura NSX.
A Tesla removeu os rádios AM de todos os modelos que está produzindo
atualmente, entre os quais o Model S, que oferecia essa opção.
Em lugar disso, ela oferece um serviço de rádio via internet e também rádio
FM, e como opcional oferece rádio de alta definição e conexão Bluetooth
para transmitir rádio diretamente aos fones de ouvido.
Travis Hollman, 49, dono de uma empresa na região de Dallas, no Texas,
disse ter encomendado um Tesla com todos os opcionais quando o modelo
ainda vinha equipado com o rádio AM.
Seu Model S 2018 chegou em abril sem o rádio. “Fiquei tão furioso que quis
devolver o carro”, conta.
Ele acabou ficando com o Model S, mas sente falta de ouvir os programas
esportivos locais e as estações de rádio com programação política
conservadora.
Os rádios AM eram tão comuns nos carros quanto os limpadores de parabrisas,
desde a década de 1940. Nas viagens rodoviárias de verão, o rádio AM
servia como estrela polar para os motoristas que atravessavam os Estados Unidos, oferecendo uma amostragem idiossincrática de culturas locais e uma
distração para reduzir a fadiga causada por horas ao volante.
As rádios AM atuais, que já estão lutando com uma perda de receita
publicitária que dura uma década, se preocupam com a perda de ainda mais
audiência motorizada.
“É um verdadeiro desafio para o setor, e eles estão tentando convencer as
montadoras a incluir rádios AM” em todos os seus veículos, disse Mark
Fratrik, vice-presidente sênior e economista chefe da BIA Advisory Services,
uma empresa de pesquisa de mercado com foco na mídia eletrônica de
massa.
Para mostrar que os tempos mudaram, o time de hóquei no gelo L.A. Kings
anunciou em setembro que as transmissões de rádio de seus jogos deixariam
de ser feitas via rádio AM e passariam a estar disponíveis apenas nas rádios
via internet.
As maiores estações de rádio AM têm sua programação distribuída pelos
serviços de rádio via internet, o que oferece aos motoristas a oportunidade
de ouvir suas estações favoritas mesmo longe de casa. Mas estações AM
menores podem não ter a capacidade de bancar o equipamento necessário a
participar da era digital.
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO