Sem “Em busca da felicidade”, talvez o Brasil não tivesse conhecido Roque Santeiro, Odete Roitman, Nazaré Tedesco, Carminha e todas as Helenas do Manoel Carlos. Foi ela, a primeira radionovela brasileira, que, com um sucesso estrondoso na década de 40, mostrou o potencial do formato. Por isso, seis roteiros originais da obra radiofônica acabaram agora entrando para o programa Memória do Mundo da Unesco, que reconhece como patrimônio da humanidade peças de grande valor — como estas preciosidades que estão sob a guarda da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).
— Recebemos esta conquista com alegria e orgulho. Esta certificação se soma aos nossos esforços e luta pela preservação do maior acervo público de radiodifusão brasileiro, tão rico e que se encontra em diferentes formatos — afirma o diretor-presidente substituto da EBC, Luiz Antonio Ferreira.
“Em busca da felicidade”, que estrou em 1941 e ficou no ar na Rádio Nacional até 1943, contava a história de Alice Medina (Isis de Oliveira), que foi criada como filha adotiva pelo seu verdadeiro pai, o engenheiro Alfredo Medina (Rodolfo Mayer), casado com Anita de Mantemar (Zezé Fonseca) e amante de Carlota Morais (Iara Sales), mãe biológica de Alice.
— Ninguém acreditava que esse formato poderia dar certo no Brasil. Por isso, ela só foi ao ar porque a proposta já chegou com um patrocinador. Mesmo assim, não a colocaram em horário nobre, nem com o elenco principal da Rádio Nacional — conta a pesquisadora em radionovela e presidente da Fundação Casa Rui Barbosa, Lia Calabre.
A obra é original de Cuba (que, naquele momento, ainda não tinha vivido sua revolução, ocorrida nos anos 1950) e foi adaptada para o Brasil. O sucesso, no entanto, foi tanto que um personagem em dificuldades financeiras na história chegou a receber quantias em dinheiro enviadas do público. Em outra ocasião, uma personagem grávida recebeu enxovais para o bebê.
As gravações de rádio eram feitas em discos de acetato com base de metal, mas, na época, esse material estava sendo destinado prioritariamente ao uso relacionado à Primeira Guerra Mundial, que os brasileiros foram lutar na Itália. Por isso, a Rádio Nacional passou a gravar em discos com base de vidro, mais frágeis. Assim, não há mais os originais da radionovela — o que aumenta o valor histórico dos roteiros.
— Agora, eles integram a lista de arquivos que deverão ser preservados pois compõem a memória do Brasil. Assim estão mais protegidos porque o país tem a obrigação de preservá-los — afirmou a gerente de Acervo de TV e Rádio, Maria Carnevale, que, junto com os pesquisadores Indiara Góes e Thiago Guimarães e a arquivista Mirian dos Santos, lutou pelo título conferido pela Unesco no último mês.
Agora, a EBC prevê a criação de uma página do acervo na internet e a digitalização do conjunto de roteiros de “Em busca da felicidade” para facilitar a divulgação e a preservação da matriz em papel.
FONTE: O GLOBO