40 parlamentares eleitos em 2014 que eram sócios de emissoras de rádio e televisão, 4 não disputaram a reeleição e 11 foram derrotados nas urnas, incluindo nomes tradicionais como Romero Jucá (MDB-RR) e José Agripino Maia (DEM-RN)
Em campanha eleitoral marcada pela força
das redes sociais online, a chamada "bancada
da mídia" perdeu espaço no Congresso
Nacional, mas teve força para eleger três
governadores de estado.
Levantamento da Folha de S.Paulo aponta que
dos 40 parlamentares eleitos em 2014 que
eram sócios de emissoras de rádio e televisão,
4 não disputaram a reeleição e 11 foram
derrotados nas urnas, incluindo nomes
tradicionais como Romero Jucá (MDB-RR) e
José Agripino Maia (DEM-RN).
Por outro lado, 25 seguirão no Congresso nos
próximos quatro anos -5 senadores e 20
deputados. A eles se unirão três novos
deputados que declararam ser sócios de
emissoras de rádio: Leur Lomanto Júnior
(DEM-BA), David Soares (DEM-SP) e João
Maia (PR-RN).
Oficialmente, a bancada da mídia terá 28
representantes no Congresso. Mas ainda há
uma legião de parlamentares ligados a
emissoras mesmo não constando entre os
sócios. É o caso de veteranos como o deputado
federal Silas Câmara (PRB-AM), cujo irmão é
sócio de uma emissora de televisão no
Amazonas.
Entre os novatos, há nomes como o deputado
eleito Lafayette Andrada (PRB-MG), cujo pai,
Bonifácio Andrada (PSDB-MG) é sócio de
uma rádio em Minas, e o deputado eleito Paulo
Martins (PSC-PR), que é funcionário de uma
emissora da Rede Massa, ligada ao governador
eleito Ratinho Júnior (PSD).
Na Bahia, o senador eleito Angelo Coronel
(PSD-BA) tem um assessor como gestor de
uma rádio comunitária na cidade de Coração
de Maria (BA), seu reduto eleitoral.
Parte dos deputados e senadores que apareciam
como proprietários emissoras em 2014 também
deixou de fazer parte das empresas -as cotas da
sociedade foram repassadas para familiares e
aliados últimos anos. É o caso, por exemplo,
do senador Jader Barbalho (MDB-PA) e do
deputado federal eleito Aécio Neves (PSDBMG).
A mudança aconteceu após uma série de
inquéritos e ações civis públicas movidas em
2015 pelo Ministério Público Federal, questionando as concessões em nome dos
parlamentares.
Segundo a Procuradoria, a Constituição
determina que deputados e senadores não
podem ser concessionários de serviços
públicos, regra que valeria também para a
radiodifusão. Já os parlamentares argumentam
que a legislação restringe apenas que eles
exerçam cargos executivos na direção das
empresas.
Se, no Congresso, a bancada da mídia perderá
espaço na próxima legislatura, os meios de
comunicação tradicionais mostraram força com
a eleição de governadores de três estados.
O caso mais surpreendente é o do apresentador
de TV Wilson Lima (PSC), 42, eleito
governador do Amazonas. Ele não tinha
carreira política e até junho apresentava o "Alô
Amazonas", popular programa com temas
policiais e comunitários.
Paraense e de origem familiar pobre, Wilson
fez a carreira no Amazonas dentro do RCC
(Rede Calderaro de Comunicação), que reúne a
TV A Crítica, afilada da Record, e outras dez
empresas. Ao todo foram 12 anos trabalhando
para o grupo.
Após a vitória no segundo turno, o jornal A
Crítica fez uma capa especial onde se lia "O
Brasil e o Amazonas decidiram virar a página".
No Instagram, a presidente da RCC, Tereza
Cristina Calderaro Corrêa, comemorou: "QUE
FORÇA tem nosso grupo no Amazonas".
Em entrevista por telefone, o vice-presidente
Dissica Calderaro disse que a celebração de
sua mãe foi em caráter pessoal. Ele afirma que
a RCC não se envolveu na campanha de Lima
e que o conglomerado tomará distância do seu
governo.
O grupo A Crítica não mudará e será o grupo
O Elogio. Vamos continuar o nosso trabalho",
disse. "O próprio programa Alô Amazonas
cobrará o governador."
No Pará, o clã Barbalho, dono do grupo RBA,
voltou ao poder após 25 anos com a eleição de
Helder. Seus pais, o senador Jader e a deputada
federal Elcione, renovaram seus mandatos.
O conglomerado inclui a afiliada local da TV
Bandeirantes, o jornal Diário do Pará, entre
outros meios comunicação. Não são raras
reportagens críticas a adversários,
principalmente do PSDB, ao lado de menções
elogiosas a Jader e a Helder.
No Paraná, a família do governador eleito
Ratinho Júnior (PSD) é dona da Rede Massa,
que reúne emissoras de rádio e a afiliada do
SBT no estado. O pequeno império
comunicacional foi criado pelo seu pai, o
apresentador de televisão Ratinho.
Entre os novos senadores, três têm relações
estreitas com emissoras de televisão, casos de
Jayme Campos (DEM-MT), Weverton Rocha
(PDT-MA) e Carlos Viana (PHS).
A família de Campos é sócia da TV Brasil
Oeste no Mato Grosso, enquanto Carlos Viana
foi eleito em Minas Gerais após uma carreira
de apresentador na Record Minas.
No Maranhão, Weverton tem ligações com a
TV Difusora, afiliada do SBT, há, pelo menos,
dois anos.
O senador eleito é sócio de uma empresa
firmou contrato de promessa de compra e
venda da emissora, que pertence à família do
senador Edison Lobão (MDB).
Desde que o contrato foi assinado, TV
Difusora tornou-se uma espécie de vitrine para Weverton. Ele passou a ter presença constante
em programas como o Bom Dia Maranhão, no
qual costuma aparecer em entrevistas e
reportagens sobre a sua atuação em Brasília.
Por meio de sua assessoria, o senador eleito
informou que é um potencial comprador, mas
não possui o controle atual da emissora.
Enquanto novos nomes ganham espaço, clãs
tradicionais que controlam meios de
comunicação sofreram reveses neste ano. No
Norte, a derrota mais emblemática foi a do
senador Romero Jucá, que não se reelegeu. A
sua família controla as afiliadas das redes
Record e Bandeirantes, além da rádio 93 FM,
em Boa Vista.
Na avaliação do jornalista Eugênio Bucci,
professor da Escola de Comunicação e Artes
da USP, as empresas de rádio e televisão ainda
constituem um polo de poder importante na
política brasileira.
Ele afirma, contudo, que as emissoras são
importantes na formação de convencimentos
políticos, mas não é exatamente determinante
no voto do eleitor.
Ele cita como exemplo a família Barbalho, que
mesmo sendo dona de uma TV, passou duas
décadas fora do governo. "É um clã enraizado
e que controla uma emissora. Mas existem
outros fatores importantes para a vitória [de
Helder Barbalho], como o desgaste do governo
atual", afirma Bucci.
FONTE: GAZETA ONLINE