Sem acesso à biblioteca nem material didático mais completo, uma detenta, de 38 anos, passou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) após estudar ouvindo a Rádio CBN e assistindo o noticiário da TV. A mulher, que está presa na Unidade Feminina de Regime Fechado de Rio Branco, foi aprovada no curso de processos escolares no Instituto Federal do Acre (Ifac).
Um novo começo e a chance de realizar um sonho interrompido pelo cárcere. É assim que a presa vê a aprovação dela no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). No Acre, cinco detentos foram aprovados nos cursos de história, teatro, processos escolares, engenharia agronômica e administração pelo Sisu em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, interior do Acre.
“Na verdade é um sonho desde quando não estava no cárcere. Só que são três anos consecutivos que presto o Enem aqui dentro. Nos outros dois anos alcançava a nota, mas por um motivo ou outro não conseguia me inscrever no Sisu por conta do prazo, que é um bem curto, e às vezes faltava comunicação com minha família e a gente findava perdendo o prazo", conta a detenta, que não terá a identidade revelada a pedido dela e do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC).
Presa foi aprovada em processos escolares no Ifac, em Rio Branco — Foto: Reprodução
TV e rádio
Presa pelo crime de homicídio, do qual nega autoria, a mulher disse que usou os meios de comunicação disponíveis, como rádio e televisão, para saber dos principais assuntos do momento e estudar. Foi ouvindo entrevistas em jornais na televisão e na rádio que sabia o que estava acontecendo no Acre e no mundo.
“Também pela rádio, mais a Rádio CBN que é uma rádio bem informativa. Então, me apegava muito à programação da rádio CBN me preparando mais para a questão da redação porque são temas mais atuais. A questão das disciplinas mais exatas tive de me apegar com o que aprendi ainda no ensino médio. Então, foi mais ou menos assim”, revelou.
Agora aprovada, a presa depende da autorização da Vara de Execuções Penais para ser liberada para assistir as aulas. Para ela, estudar nunca cansa e espera ajudar outras pessoas com o exemplo de determinação e esforço.
“Quero pedir à doutora juíza da Vara de Execuções Penais, doutora Luana Campos, que analise o meu caso e veja com carinho a possibilidade de liberar. A minha parte eu fiz, que foi procurar passar, ser classificada e que se ela me der essa oportunidade ficarei bem agradecida. Farei a minha parte para não decepcionar a Justiça e nem a direção do presídio que me auxiliou a essa conquista”, ressaltou.
Ajuda
A coordenadora das ações de educação do Iapen-AC, Helena Guedes, explicou que o papel do instituto vai até o momento da matrícula no Sisu. Ela falou que uma pessoa fica responsável por inscrever e acompanhar as inscrições para os presos.
“Diante das divulgações nas chamadas no Sisu, o responsável pela inscrição do preso faz a matrícula com toda documentação e comunica à família. Se o preso tiver advogado, ele vai fazer o pedido de liberação na Vara de Execuções Penais, se não tiver pode pedir à Defensoria Pública”, informou.
Ainda segundo Helena, o instituto disponibiliza livros para os presos estudarem e se prepararem para as provas.
“Quando abrem as inscrições para o Enem, a coordenação de Educação disponibilidade livros, que a Secretaria de Educação sempre doa, então, entregamos livros para estudarem por conta própria. Quem está em aulas nas unidades prisionais já faz uma preparação na sala de aula, os professores falam sobre as questões do Enem, mas quem não está estuda com os livros que o Iapen disponibiliza”, garantiu.
FONTE: G1