quarta-feira, 15 de maio de 2019

Há 50 anos, matéria de 1 minuto no rádio levou jornalista mulher às manchetes na Inglaterra


A gravação tinha apenas um minuto e nenhuma informação bombástica. Era o relato da goleada do Chelsea por 5 a 1 sobre Sunderland pelo Campeonato Inglês. Mas, por ter sido feita por uma mulher, a reportagem deu o que falar. E assim, Mary Raine, a primeira mulher a cobrir uma partida de futebol para o programa Sports Report, da rádio da BBC, virou manchete há 50 anos. 

Mary trabalhava para a editoria de política e era especialista em assuntos internacionais. Mas todos os colegas sabiam da paixão da jornalista pelo esporte. Nascida na região da Nortúmbria, no norte da Inglaterra, ela era torcedora do Sunderland – o irmão, fã do Newcastle, a impediu de “imitá-lo”. Como o pai não gostava de futebol, ela ia aos jogos com um amigo dele. E assim foi construindo o gosto pelo jogo e o conhecimento que a faria se destacar nas resenhas na redação. 

- Em vez de descer seis andares até o arquivo eles perguntavam se eu sabia isso, aquilo, se podia economizar tempo. Eu era conhecida como uma fanática por futebol. Eu, sendo um tipo muito falante, eu conhecia a maioria dos homens da redação pelos times que eles torciam. Acharam que seria uma boa ideia colocar uma mulher e me escolheram. 

Mary foi a Stamford Brigde e assistiu ao jogo da tribuna de imprensa. Gravou e gerou o material do próprio estádio. Não tem a gravação original e nunca gostou de ouvi-la por causa do forte sotaque que tinha na época. Naquele momento, mesmo tendo virado personagem de uma dúzia de artigos na imprensa britânica, ela não tinha ideia da importância daquela participação. 

- Eu soube recentemente, quando tentaram descobrir se eu ainda estava viva (risos). Afinal foi há 50 anos. E perguntaram se eu percebia que tinha sido uma pioneira nisso. 

A jornalista enfrentou muita resistência. Houve editor que se recusou a rodar o boletim na programação. No ano seguinte foi escalada para cobrir a final da Copa da Inglaterra, mas acabou barrada "por se tratar de um jogo muito importante para ser reportado por uma mulher". 

Assim, todas as outras vezes em que colaborou com a sessão de esportes ela acabou optando por adotar pseudônimos. Ao assinar as matérias com nomes masculinos o material era aprovado. 

- Houve um período de muitos protestos, uma época muito ruim com o hooliganismo. Eu escrevi sobre isso e usei o nome do meu chefe, Alan Jones, que estava de férias. Eu achava um bom nome para um jornalista esportivo. (...) Eu sabia que nunca usariam uma matéria escrita por uma mulher. E eu estava no negócio. Se eu escrevi, queria que usassem. 

Mary se aposentou na década de 90, mas seguiu fazendo trabalhos como freelancer até completar 70 anos. Hoje, aos 79, é apenas leitora e telespectadora das notícias. No impresso, mantém o hábito de começar sempre pelo caderno esportivo. 

Pelé e Banks in loco e admiração por Willian 

Fã do futebol brasileiro, ela foi à Copa do México, em 1970, e viu ao vivo a icônica defesa de Gordon Banks na cabeçada de Pelé. Além de falar com saudosismo dos nossos craques, ela ressalta a qualidade da safra atual na Premier League. 

- Willian é meu favorito, e o que o Lucas Moura fez... O Manchester City tem brasileiros fabulosos. E hoje os melhores goleiros da Premier League são brasileiros: Ederson no City e Alisson no Liverpool. Ele salvou o Liverpool na outra noite (semifinal da Liga dos Campeões). Messi teve uma noite ruim, mas Alisson foi fabuloso.
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