sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Radialistas encararam viagem de Fusca até o Rio em bate e volta para transmitir gol mil de Pelé




O sonho de testemunhar o milésimo gol de Pelé animou Walter Dias e Leonardo Augusto a encarar uma viagem de mais de de 500 km dentro de um Fusca 68, saindo de Santos, atravessando a rodovia Presidente Dutra, e parando de frente para o Maracanã, no Rio de Janeiro, há 50 anos.

Eles não eram torcedores do Santos nem do Vasco, equipes que jogariam naquela noite de 19 de novembro de 1969, pelo extinto Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Eram simplesmente o narrador e o repórter de campo da Rádio Cacique, uma emissora de Santos. 


"Todos os jogos do Santos na Vila Belmiro nós estávamos presentes. Também fazíamos os jogos importantes em São Paulo, mas viajar para outros Estados era muito difícil e raro. Viajar para outros países então, impossível", relembrou o locutor Walter Dias.

Walter Dias entrevista Andrey, jogador do Santos sub 17, e filho do Ademir Quintino Divulgação

A rádio em que ele, com seus 37 anos, e o Leonardo, seu contemporâneo, trabalhavam tinha poucos recursos. A viagem para o Rio nem deveria acontecer. 

"Eu tive uma intuição muito forte, um dia acordei certo de que que o milésimo sairia naquela quarta-feira, 19 de novembro. Faltava um gol para o Pelé e ele não tinha feito em Salvador. Falei com o Leonardo e ele também sentiu isso. Pegamos o Fusca e fomos", disse Walter Dias para a ESPN. 

A rádio nem foi consultada, mas aprovou a viagem da dupla. E divulgou a transmissão da partida em todos os jornais de Santos. O anúncio dizia: 

"Pelé fará o milésimo hoje no Maracanã? Futebol todo azul pela CACIQUE. Ouça hoje a partir das 20h. Diretamente do Maracanã". 

"Após pegar a estrada, chegamos ao Maracanã por volta das 17h e entramos. Mas somente as grandes emissores tinham cabines para usar. As pequenas emissoras, se posso dizer, transmitiam os jogos atrás das cabines. E chovia fino naquela noite. Então, consegui um guarda-chuvinha para me proteger e protegi o aparelho com revistas e jornais para não tomar água, senão a transmissão parava", disse o locutor. 

Walter Dias ficou orgulhoso de ter assistindo in loco o milésimo do gol de Pelé, mas também sentiu-se frustrado. 

"Eu não gosto. Aliás, acredito que muitos não gostaram. O Pelé, que tantos gols bonitos fez, marcar o milésimo em cobrança de pênalti? E um pênalti que o goleiro Andrada quase defendeu. Não gostei. Não combinou com a festa", disse. 

"Eu prefiro que fique na memória o gol marcado por ele na rua Javari, em 1959, quando ele aplicou três chapéus, um no Homero, outro no Clovis e o último no goleiro Mão de Onça, sem deixar a bola cair no chão. Aí, marcou. Eu estava lá. Trabalhei naquele jogo. Para mim, aquele é o gol que reúne a genialidade do Rei do Futebol", concluiu. 

Quer dizer, ainda não. 

"Faltou contar para vocês que, depois que acabou o jogo no Maracanã, eu e o Leonardo guardamos o equipamento, voltamos para o Fusca e fizemos o caminho de volta até Santos. Não tínhamos dinheiro nem para bancar um hotel para descansar. Mas voltamos felizes. Missão cumprida. Transmitimos para nossos ouvintes o milésimo gol!" 

FONTE: ESPN
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