Cidades do interior do Rio Grande do Norte estão criando alternativas para que os alunos da rede pública tenham acesso a conteúdos educacionais neste período de pandemia do coronavírus, em que as aulas presenciais estão suspensas em todo o estado.
O desafio em alguns municípios é ainda maior pela ausência de internet e computador na residência de muitos dos estudantes. Assim, o uso do rádio tem sido uma solução na transmissão de conteúdos da escola e na prática de atividades.
Um desses casos acontece no município de Serra Negra do Norte, distante cerca de 320 quilômetros de Natal. A secretaria municipal de educação resolveu criar um programa diário, o Educa Quarentena, para transmitir algumas aulas através de uma estação de rádio. "São trazidos professores que dão aulas de português, matemática, geografia, história, contação de história", resume a professora Elizandra Maria.
Gabriel Silva, estudante em Serra Negra do Norte — Foto: Cedida ao G1 |
Um dos que tem sido beneficiados com o projeto é Gabriel José da Silva, que faz o 2º ano do ensino fundamental na Escola Municipal Comandante Alvares Mariz. Para a mãe dele, Salésia Maria da Silva, o programa abrange mais estudantes sendo veiculado pelo rádio. "Isso é muito importante, porque nem todos tem internet e pelo rádio fica mais acessível, todos podem ouvir", falou Salésia.
"Mesmo em casa, não perdemos a prática de fazer tarefas, ditados, resolver continhas de matemática", comentou Gabriel.
Para o secretário de educação de Serra Negra do Norte, Petrúcio Ferreira, a alternativa tem sido eficaz. "Estamos de certa forma conseguido atingir várias famílias e essas famílias realizam as atividades, que muitas vezes estão contidas no dia a dia educacional", explicou.
O programa vai ao ar diariamente das 15h às 16h e tem a participação de professores da rede municipal ministrando as aulas.
"Está sendo muito proveitoso. As crianças não tem perdido a prática do que elas aprendiam quando estavam em sala de aula, mesmo estando em casa. Está sendo cada dia uma coisa nova e incentivadora", falou Salésia, que tem outra filha que acompanha as aulas pelo rádio.
Projeto em Caicó
Iaponira Costa (de óculos) é uma das mediadoras do programa — Foto: Cedida ao G1 |
"Nós fazemos 'círculos de cultura virtual'. Não são aulas exatamente. Nossa intenção não é fazer Educação à Distância (EAD). Nossa tentativa é de ficar junto com o nosso aluno", explicou a professora Iaponira Costa, que faz parte da Direc. "Chamamos de Círculo de Cultura, baseado no método Paulo Freire".
A motivação para o projeto também está relacionada à ausência de internet e computadores na casa de muitos estudantes. "Os alunos de EJA são os que tem menos acesso à tecnologia. Quando ficamos com as escolas fechadas, pensamos na ideia de elaborarmos um projeto que fosse transmitido através da rádio", explicou Iaponira.
O programa acontece diariamente e cada dia é dedicado a uma área do conhecimento, como temas sociais, humanas, exatas e linguagem. A produção conta com dois mediadores e convidados que estejam relacionados ao conteúdo que será debatido. O programa está no ar desde o dia 15 de abril.
"A receptividade tem sido muito boa. A gente viu que o alcance foi bem maior e já tem outros públicos que acompanham o programa, já que fazemos a transmissão também ao vivo pela internet", explicou.
"É um projeto que lembra a alguns da educação radiofônica que tínhamos em Caicó antigamente. Era o MEB (Movimento de Educação de Base)", falou Iaponira. O MEB era um projeto de educação popular desenvolvido nas Arquidioceses do Nordeste, que criaram escolas radiofônicas como método de propagação do ensino.
FONTE: G1