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Prof. Luís*

Por muito tempo imaginei que o ouvido fosse passivo, ou seja, ele apenas percebia sons sem nenhum tipo de critério ou barreira. E talvez, por isso, era quase impossível tampá-los totalmente, como acontece com os olhos. Porém, quando comecei a estudar o comportamento dos sons e, consequentemente, o comportamento do aparelho auditivo, abriu-se um universo totalmente novo e diferente do que eu imaginava. 

Primeiro porque o ouvido escuta (é claro!), e escutar é um verbo, ou seja, uma ação... E ação não é estática ou passiva. 

Cheguei à conclusão, que o ouvido além de ativo é também seletivo. Ele é ativo quando é capaz de explorar todas as potencialidades acústicas. Já o ouvido seletivo empresta toda a sensibilidade numa produção auditiva, selecionando apenas o que vale a pena ouvir. 

Quando era ainda jovem, queria muito apreender a tocar contrabaixo elétrico. Como já tinha uma pequena noção de música por causa do violão peguei um instrumento emprestado com um amigo. A partir de então comecei a escutar um radinho de pilhas e tentar reproduzir o que ouvia. Depois de muitos anos (quase 20) depois, percebi que eu conseguia separar o som do contrabaixo. Aprendi de ouvido, como costumamos dizer. Isso só foi possível porque o ouvido é capaz de selecionar sons. E isso é fantástico! 

Muitas vezes selecionamos os sons e não percebemos. Tudo isso para dizer que o nosso ouvido é ativo e seletivo. 

Por isso é que o produtor de áudio, geralmente, escuta mais do que fala. E não é porque ele não tem o que dizer, mas porque ele precisa ouvir. 

Escute mais... Quando estiver em casa, perceba o quão são diferentes os sons de cada cômodo. Quando sair de casa, escute os carros, o barulho dos caminhões, o avião que corta os céus. Escute quem está perto, escute quem está longe; escute os diálogos tranquilos e também os diálogos mais exaltados. Um bom produtor de áudio tem referências auditivas, porque teve experiências auditivas. 

Se possível, pare um pouquinho, feche os olhos e apenas escute. Sim, sabe por quê? Existe diferença em escutar com olhos abertos e escutar com olhos fechados. Os olhos abertos limitam sua experiência a um frame. Olhos fechados fazem transcender os sons escutados e a experiência sensorial é única e pessoal.

*Texto de Luís Fernando Ribeiro de Oliveira, professor de disciplinas como radiojornalismo, produção em rádio, produção de áudio para audiovisual e áudio para jogos digitais.

Postado por César Oliveira

O portal da galera do rádio
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