» » Qual o papel do rádio no combate à desinformação?



Artigo publicado neste mês de maio no New York Times traz algumas reflexões e oportunidades.

Por Giovana Massetto

Recentemente, o repórter internacional e colunista do New York Times, Max Fisher publicou o artigo intitulado “O pertencimento é mais importante do que a verdade: a era da desinformação”, com reflexões relevantes para o momento que a sociedade mundial vive e, em especial, para jornalistas e veículos de comunicação.

Na publicação, Max Fisher cita três aspectos principais:

A necessidade de endoagrupamento, ou seja, a crença de que o grupo social com o qual se identifica é superior a outros e que os outros são culpados pelos problemas. Em tempos de conflitos evidentes ou mudanças sociais, buscamos segurança em grupos. E isso nos deixa vorazes por informações, verdadeiras ou não, que nos permitem ver o mundo como um conflito que opõe nosso virtuoso endogrupo com um nefasto exogrupo.

A emergência de figuras no alto escalão da política, que encorajam seus seguidores a se entregar a um desejo por desinformação que afirme uma identidade.

Crescimento das plataformas de redes sociais que são poderosas para autores de mentiras, vetores de difusão de desinformação em sua essência e multiplicadoras de outros fatores de risco.

Levando em consideração as análises de Fisher quais seriam as oportunidades para o rádio? Primeiramente, como um veículo essencial, não apenas neste período de pandemia, o rádio tem o maior potencial de relacionamento graças a proximidade que apresentadores e jornalistas conseguem criar com o ouvinte. Esta possibilita a criação de uma rede social, no sentido mais profundo da palavra, ou seja, uma união de pessoas com pensamentos afins. Graças a alta homofilia (termo que significa a tendência do ser humano se associar a pessoas semelhantes a elas) criada, automaticamente é construído um vínculo de confiança entre apresentadores e ouvintes.

Quando a confiança já está estabelecida, cabe ao rádio oferecer ao seu ouvinte conteúdo local de qualidade, corretamente checado, para assim mantê-la. É exatamente neste ponto que o rádio tem grandes oportunidades. “Claro que as informações nacionais são fundamentais, mas elas não podem ser trazidas desconectadas de uma realidade próxima. Acredito que as emissoras podem olhar para o que acontece na sua região e tentar coordenar essas experiências de verificação nacionais com a realidade regional”, defende Debora Cristina Lopez, pesquisadora da Universidade Federal de Ouro Preto.

Na reportagem Conteúdo Local: identidade, precisão e confiança, publicada na Revista Sintonize, edição 2020, o jornalista, escritor e professor de rádio da UFRGS, Luiz Artur Ferraretto disse a época que o rádio presta um serviço fundamental no sentido da apuração

e esclarecimento, especialmente na escala regional, onde não há atuação e alcance das agências de checagem e veículos de abrangência nacional. “Apesar da abrangência física e digital cada vez mais ampla, o que dá audiência e interação é a proximidade, e quem paga as contas é o anunciante local”, afirmou.

Mas para combater a desinformação cabe aos jornalistas das emissoras de rádio realizar a checagem das informações e criar os caminhos de checagem. “Sabemos que a comunicação não é a prova de erro, por mais que a gente faça uma série de caminhos, precisamos diversificar fontes, buscar documentação e cruzar o que as fontes dizem. Mas de nada adianta fazer a verificação do que está sendo dito a nível nacional sem pensar no que interessa e afeta o cotidiano do público para quem se fala, principalmente quando se trata de emissoras do interior”, salienta Debora.

Além disto, ela sugere a escuta ativa da sociedade na qual a emissora está inserida e cita um projeto desenvolvido no Rio Grande do Sul. “A Universidade Federal de Santa Maria conta com uma web radio conduzida por alunos, que merece destaque pela sua atuação. Durante a pandemia, em 2020, eles fizeram um trabalho de verificação de informações que estavam circulando na região. Eles realmente escutaram o que as pessoas estavam falando na rua e verificavam essas informações, das mais simples às mais complexas. Este trabalho afetou efetivamente a comunidade regional porque trabalhavam com fatos que atingiam aquele público, acredito que este seja o papel local do rádio”, detalhou.

Agências de checagem

Além da construção de uma ampla base de fontes, as informações também podem ser checadas em agências, confira algumas delas.


Pioneira do fact-checking no Brasil, a agência Lupa foi criada por Cristina Tardáguila, e acompanha o noticiário de política, economia, cidades, cultura, educação, saúde e relações internacionais. Também integra o IFCN e é a única plataforma brasileira a fazer parte do consórcio mundial de checagem The Trust Project


Criado em 2013 pelo jornalista Edgard Matsuki, o Boatos.org destrincha as histórias que viralizam na rede. Recebeu algo pelo whats e não tem certeza se aquilo faz sentido ou tem base real? Provavelmente Matsuki e sua equipe já tem a resposta, inclusive com a origem dos boatos.


Um dos mais antigos entre os portais de checagem (2002), o E-farsas desmistifica histórias mal contadas na internet e ainda entrevista especialistas para endossar as contradições do que, na maioria das vezes se trata de boato. O fundador, Gilmar Henrique Lopes chegou a ‘encaixar’ o trabalho no programa “Você é Curioso”, da Rádio Bandeirantes.


No formato de blog, o Estadão Verifica é editado pelos próprios repórteres do jornal. A iniciativa integra o International Fact-Checking Network (IFCN) e virou parceira formal do programa de checagem de fatos do Facebook no Brasil.


Lançada em 2018 pelo portal de notícias G1, o Fato ou Fake é um consórcio formado pelos veículos da Rede Globo de Comunicação (G1, O Globo, Extra, Época, Valor, CBN, GloboNews e TV Globo) com intuito de esclarecer tanto as próprias informações, quando questionadas, como conteúdos duvidoso espalhados na internet.


Fundado pelos jornalistas Tai Nalon e Rômulo Collopy, Aos Fatos é mais focado em declarações de políticos e autoridades de expressão nacional, com base no Rio de Janeiro e em São Paulo. Verificam se alegações de autoridades sobre temas de maior importância são verdadeiras ou não, distorcidas, exageradas ou omitem informações relevantes.


Projeto de checagem da Agência Pública, de jornalismo investigativo. O truco foca na apuração de declarações de autoridades, especialmente em época de campanha eleitoral. Mas também checa declarações feitas em eventos públicos, entrevistas e redes sociais.


O Checa Zap tem foco total no aplicativo Whatsapp, mas também atua com o Twitter e Facebook. Encabeçado por estudantes e jovens periféricos de São Paulo (Escola Énois) e do Rio de Janeiro (data_labe), promove a checagem semanal de fatos e boatos que podem impactar no processo eleitoral. Trabalham em parceria com a página Quebrando o Tabu no Facebook, Huffpost Brasil e por meio de boletins semanais na rádio CBN.


A iniciativa do UOL tem um viés menos abrangente e mais profundo. O serviço, lançado em 2007, conta com jornalistas que não apenas confirmam ou desmentem histórias e declarações, mas também contextualizam os fatos com dados, números e desdobramentos.

FONTE: AERP - Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná

Postado por César Oliveira

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