» » Narrador esportivo: seu grito de gol é a emoção do ouvinte



Confira as dicas de profissionais e especialistas da área para dar aquela força para quem almeja ser locutor esportivo.

Por Fernanda Nardo.

Narrar futebol no rádio não é tarefa simples. Tem que sentir emoção, transmiti-la e fazer o coração do torcedor vibrar. Tem que suar muito a camisa fora de campo para conquistar a tão desejada flexibilidade e agilidade vocal, buscar conhecimento específico do esporte, ter boa dicção, vontade de aprender e estar disposto a crescer dentro do mundo esportivo, passo a passo. Para ajudar, algumas dicas são essenciais para quem almeja traçar esse caminho.

Segundo a fonoaudióloga e consultora de voz profissional, Daniela Almeida, falar de locução esportiva é falar de uma riqueza de expressividade, no qual, as características vocais continuam as mesmas dos outros estilos de locução, porém, prefere-se uma qualidade de voz mais fluída, de grave para média, com uma ressonância equilibrada, ou seja, a voz mais colocada no rosto que ganha um pouco mais de projeção vocal.

“A diferença está na riqueza da expressividade, com mais flexibilidade vocal, amplitude de frequência e velocidade de fala mais acelerada. A intensidade e o volume são mais valorizados para que a transmissão seja vibrante, com entusiasmo. Exige-se do locutor essa flexibilidade para transmitir mais emoções”, diz.

De acordo com a consultora, é fundamental caprichar nas entonações para transmitir esse estado de vibração e entusiasmo e um equilíbrio entre o descrever o que acontece em campo e o olhar direcionado para o que acontece em cada lance. “Isso se dá por meio do controle da velocidade de fala e das entonações, além de clareza e agilidade descritiva e articulatória”, afirma.

A capacidade de improviso também é essencial, já que o locutor esportivo não sabe o que irá acontecer durante o jogo, ele precisa construir essa narração conforme o tempo avança. “Para obter a calma necessária, narrando com entusiasmo e vivendo o jogo, tem que trabalhar com a capacidade do improviso”, explica.

Daniela destaca que para enriquecer a transmissão, é necessário o conhecimento profundo de todas as técnicas e do vocabulário. “A criação de metáforas e de jargões ajudará a traduzir o sentimento do torcedor, essa responsabilidade é do locutor”.

Jargão, a marca do narrador

“Meus respeitos meu nobre e dinâmico ouvinte”, quem ouve futebol no rádio sabe que esse é um dos jargões criados pelo comentarista e narrador esportivo, Fernando Gomes. Assim, como outros falados por ele durante as transmissões: “eu nunca vi gandula voar”, “o Coritiba abotoou o Athletico” ou “tá aqui na minha planilha que não falha”. “Tem até professor universitário que usa isso, os jargões pegam muito. Sempre digo para quem tá começando: se você não criar jargão, não tem como marcar sua presença”, afirma.

Fernando começou na área esportiva na década de 1960, já foi auxiliar de plantão, plantonista, repórter, trabalhou como narrador e comentarista no rádio e na televisão. Ele conta que desde pequeno sonhava em ser narrador esportivo.

“Quando comecei ia para os treinos gravar o nome dos jogadores e treinar a narração. Acho que o treinamento e a insistência são fundamentais. Algumas pessoas falam que a narração no futebol é um dom, outros dizem que é habilidade nata. Eu acho que o principal é ter conhecimento de futebol, facilidade na descrição do lance e uma boa dicção, para falar rápido e mesmo assim de uma maneira que as pessoas entendam”, diz Gomes.

Seja original

O narrador e professor de rádio esportivo, Sidnei Campos, tem mais de 50 anos de experiência na área. Cerca de 20 profissionais que trabalham no rádio atualmente passaram pelas suas aulas. Gomes destaca que para ser um bom narrador é preciso ter conhecimento, um vocabulário amplo para não se tornar repetitivo, não confundir vibração com gritaria, transmitir a narração em alto e bom som e com uma boa dicção e passar a emoção por meio da imagem que está sendo vista.

“Tem que ser objetivo, sucinto e sempre deixar o ouvinte com vontade de querer mais. Além disso, muita gente começa copiando alguém, mas por melhor que você faça a cópia, nunca vai ser igual ao original. Ruim ou bom, você tem que desenvolver o seu estilo, ser você mesmo, criar os seus jargões”, afirma.

Além disso, é preciso conhecer de futebol e o posicionamento do time dentro da área e, claro, estar preparado sabendo todas as informações sobre o jogo. Para Gomes, é preciso gostar do que faz e valorizar cada jogo.

“Até hoje, mesmo com mais de cinco décadas no rádio, gravo todas as minhas transmissões, depois de cada jogo ouço duas ou três vezes e sempre encontro falhas. É um trabalho de dedicação e amor. Para mim, cada jogo é uma decisão de Copa do Mundo. Se o jogo está uma porcaria, você está induzindo o ouvinte a desligar o rádio. A cada partida você tem que passar emoção para valorizar o seu trabalho”, diz.

FONTE: AERP - Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná

Postado por César Oliveira

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