Nascido em Nossa Senhora das Dores, no Sergipe, José Francisco dos Santos veio muito novo para o Estado de São Paulo, por isso, em seu registro, consta que é natural da cidade de Gália.
Durante uma parte de sua vida, morou na zona rural. E foi nesse período que teve seu primeiro contato com o rádio como ouvinte. “Em meados de 1976, eu morava no sítio. A gente tinha um aparelho de pilha e eu ouvia muitos programas. Na época, a Rádio Nacional ainda, atrações como a do Edgard de Souza. Ou ainda Zé Bettio e Tonico e Tinoco. Eu comecei a gostar muito e a me apaixonar pelo rádio!”, lembra.
Por isso, fez um curso pelo Instituto Monitor e outro pelo Instituto Universal de eletrônica. “Eu fui pegando amor! Pensei: ‘um dia vou trabalhar com isso’. E fui!”, narra.
O nome artístico “Robertinho”, a forma como é conhecido pela maioria das pessoas, surgiu já em Bauru porque José era muito fã do guitarrista Robertinho de Recife. Como ouvia muito as músicas do artista, passou a ser chamado dessa maneira e adotou o apelido.
Robertinho se mudou para Bauru em 1979. “Já por aqui, passei a ouvir as estações da cidade. Naquela época, na década de 1980, escutava nomes como Flávio Pedroso, Adriano Garcia e Walter Neto”, pontua.
Assim, foi aqui na região que começou sua relação, de fato, com o rádio.
As décadas no rádio
Robertinho conta que, por meio de um amigo, conseguiu entrar em uma rádio para ajudar na discoteca separando músicas. A partir de então, de 1985 até 2016, trabalhou como operador de som. Primeiro, na Rádio Universal, depois na Bauru Rádio Clube. Na Rádio Auri Verde, permaneceu de 2006 a 2012. Depois, tornou-se técnico de manutenção do som.
De acordo com ele, são muitas histórias daqueles tempos. “Nós lidávamos com fitas e discos de vinil. Uma vez, na rádio, eu peguei e coloquei um disco, que tinha faixas grandes de música, em torno de 10 minutos. Então, eu coloquei uma faixa do disco no ar e fui ao banheiro e comer alguma coisa na cozinha. Nesse tempo, o disco enroscou e ficou um tempão! De repente, o telefone começou a tocar e não parava. Na hora que eu cheguei lá, o disco enroscado e travado em uma parte”, diverte-se com a lembrança.
Segundo Robertinho, com os equipamentos analógicos, ele precisava ser ágil para conferir a dinâmica dos programas musicais. “Funcionava assim: o ouvinte ligava na rádio e pedia uma música. Aí eu tinha que fazer um sinal para o locutor falar um pouco para me dar um tempo. Eu corria na discoteca, ia pela ordem alfabética para encontrar o artista, pegar o disco certo, voltar rápido, colocar no toca-discos, selecionar a canção correta, dar um toque no locutor para ele saber que já estava preparada e colocar a música no ar. Era uma correria! Tudo isso em 2 ou 3 minutos”, recorda-se.
Depois das décadas, Robertinho começou a trabalhar com locação de som. Com a pandemia, precisou se reinventar e passou a trabalhar com propaganda em carro de som. “Eu sempre atuei nessa área. E o mundo dos carros antigos, que eu tenho os equipamentos, eu conheci por meio do Clube dos Carros Antigos do Centro-Oeste Paulista. Assim, eu comecei a participar com eles tocando músicas antigas e passei a fazer os eventos”, relata. Hoje em dia, até mesmo se intitula um “DJ de época”.
Raridades
Nesses anos exercendo diversas funções relacionadas ao universo sonoro, Robertinho preservou diversos equipamentos e ferramentas que se tornaram relíquias.
E o colecionar enumera: “Eu tenho cinco gravadores de rolo, que são de 1959, e eram muito utilizados em emissoras de rádio. É um equipamento que veio para o Brasil mais ou menos entre 1958 e 1959. Tenho dois tape decks, dois toca-discos daquele modelo antigo de madeira ainda e 78 discos de vinil. Dois que são raros: o álbum duplo do Elvis e dos Beatles. Além disso, também preservo fitas-cassete; um microfone de 1940 e outro de 1950; discos virgens; uma fita lacrada; uma pecinha de metal que a gente usava quando cortava a fita para fazer emendas; e um aparelho chamado MD, que junto com o MP3, substituiu as fitas nas rádios”.
Além dessa lista, Robertinho tem em seu acervo um item que se destaca: uma mesa de som que era utilizada, antigamente, em estúdios de rádio. “Eu fiz uma adaptação para usar nos encontros de carros antigos. E ela vira uma atração! No Estado de São Paulo inteiro, não tem ninguém que eu saiba, além de mim, trabalhando com um equipamento assim de forma itinerante – só tem em estúdios de rádios. Ela chama muito a atenção e proporciona às pessoas uma viagem ao passado”, destaca.
De acordo com o morador da cidade, ele é a única pessoa em Bauru com esse tipo de material, tendo em vista que as rádios da cidade não guardaram as mesas de som utilizadas antigamente. Por isso, afirma que sua busca é pela preservação da história, especialmente da rádio, e o seu propósito é mostrar como se trabalhava nas décadas de 1980 e 1990 com tudo analógico.
Conheça algumas peças da coleção de Robertinho!
O microfone, de 1940, segundo o colecionador, é do tempo de artistas como Elvis, Beatles, Frank Sinatra e Nat King Cole. “Além disso, era usado por grandes narradores esportivos porque ele só capta a voz de frente. Assim, o som ambiente dos estádios não atrapalhava o narrador. Fiori Gigliotti, Osmar Santos e, aqui em Bauru, Luiz Carlos Silvestre foram nomes que utilizaram esse tipo de microfone!”, explica.
O Microfone de 1950 estão no acervo de Robertinho (Foto: Acervo Pessoal) Foto: Acervo Pessoal O fone de ouvido do colecionador está guardado na caixa! (Foto: Acervo Pessoal) Foto: Acervo Pessoal
O microfone, segundo Robertinho, é da década de 1950 e fez parte do cenário da música naquele período; já o fone de ouvido é original, foi muito usado na década de 1980, é raríssimo e está dentro da caixa!
Fita magnética nunca usada, ferramenta de cortar fita e fita adesiva. (Foto: Acervo Pessoal) Disco de alumínio faz parte da coleção de Robertinho (Foto: Acervo Pessoal)
Na primeira imagem, Robertinho explica que temos a fita que, em perfeito estado, é raríssima e muito difícil encontrar nos dias de hoje. “A minha está lacrada, nunca foi usada. Na rádio, a gente gravava matrizes, programas e vinhetas e arquivava em uma fita assim, que é especial para isso. Já essa pecinha era usada para cortar e emendar as fitas. A fitinha branca era colada por trás. Esse era o processo de edição: gravar, selecionar os trechos, cortar e emendar”, esclarece.
Já o disco é o que as gravadoras usavam como matriz. “Ele não quebra, é um disco virgem de alumínio. Daí passava para o disco de plástico”, informa o colecionador.
No vídeo a seguir, é possível ver a banda de rock britânica, formada em 1960, The Beatles tocando no gravador de rolo de Robertinho na Praça Portugal, em Bauru. Confira!
EU SOU A ÚNICA PESSOA EM BAURU COM ESSE TIPO DE EQUIPAMENTO. POR ISSO, BUSCO PRESERVAR A HISTÓRIA, ESPECIALMENTE DA RÁDIO! O MEU PROPÓSITO É MOSTRAR COMO A GENTE TRABALHAVA NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990 COM TUDO ANALÓGICO.
José Francisco dos Santos, morador de Bauru mais conhecido como Robertinho
Gostou de conhecer os equipamentos a coleção de Robertinho que mantém viva a memória do rádio de antigamente?
FONTE: SOLUTUDO