Até o final dos anos 1960, e com alguns remanescentes nas décadas seguintes conforme o estilo das estações de rádio, os locutores costumavam anunciar canções e compositores com voz empostada, alguma cerimônia, sempre sérios. Claro que esse não era o melhor modo de anunciar músicas modernas, dançantes, comerciais, que interessavam ao público jovem especialmente.
Foi fazendo o contrário do que se encontrava de estação em estação de rádio naqueles tempos que Newton Alvarenga Duarte iniciou o que seria uma grande revolução não apenas no estilo de apresentação, como também na própria programação musical.
Sob a alcunha de Big Boy, o pacato professor de geografia do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ganhou os microfones da Rádio Mundial no fim dos anos 1960 e impôs um novo jeito de se fazer rádio e entreter a audiência.
Newton era carioca e nasceu em 1º de junho de 1943. Grande apreciador de música de todos os estilos, mas especialmente rock and roll, ele tentou várias vezes emplacar gravações de sua vasta coleção que chegou a mais de 20 mil discos na Rádio Tamoio. Tentou tanto que foi contratado como programador da estação, e algum tempo depois transferiu-se para a Mundial, a convite do jornalista Reynaldo Jardim.
Jardim foi encarregado pelo Sistema Globo de Rádio de dar uma nova cara à Mundial, adquirida pelo conglomerado de Roberto Marinho e então identificada com a religião católica. O jornalista decidiu tornar a Mundial uma estação essencialmente de música, com pequenos blocos temáticos a cada 20 minutos, mudando o estilo a ser executado e promovendo grande variedade.
Como Newton reclamasse de que a programação jovem e vibrante que fazia não encontrava eco na forma de apresentação dos radialistas, o diretor conclamou-o a apresentar os hits da forma como achasse melhor.
“Hello, crazy people! Aqui fala Big Boy, apresentando ‘A Mundial É Show Musical’!” A frase lembrada até hoje pelos ouvintes saudosos marcou os anos 1970, tanto na faixa das 18h quanto à meia-noite, com o programa Ritmos de Boate.
Os últimos lançamentos da música norte-americana e europeia, alguns deles sequer postos à venda, eram logo promovidos por Big Boy em seus programas. Para isso, ele mantinha uma vasta rede de contatos com artistas, gravadoras, produtores, além de contar com a ajuda de comissárias de bordo e fazer ele mesmo viagens ao exterior a fim de manter-se antenado.
Nessas viagens, Big Boy tornou-se próximo de ícones da música como Beatles e James Brown, do qual inclusive apresentou shows numa turnê brasileira, patrocinada pela Rede Tupi de Televisão, no começo dos anos 1970.
Não tardou para Big Boy, bastante conhecido, chegasse à televisão. Na TV Globo, além de ter comandado um programa próprio aos sábados em 1972, que não poderia ter outro nome que não Hello, Crazy People, substituiu eventualmente Nelson Motta no Papo Firme e no Sábado Som, além de manter uma coluna no vespertino Jornal Hoje, àquela altura exibido apenas para o Rio de Janeiro. Uma curiosidade é que o Hello, Crazy People era produzido em cores, naqueles primeiros tempos da cor na televisão brasileira.
Big Boy também apresentou, em 1973, o Papo Pop – mesmo nome de sua coluna na revista Amiga -, na TV Record, programa no qual teve como convidados nomes da cena progressiva da nossa música, entre os quais Os Mutantes, O Terço e Casa das Máquinas. No jornalismo impresso, Newton também escreveu por anos para O Globo, sempre informando as últimas do mundo da música com humor e irreverência.
O sucesso do rádio não extrapolou apenas na direção da televisão: Big Boy transformou-se num grande agitador cultural ao organizar os Bailes da Pesada, inicialmente numa temporada no Canecão e depois de forma itinerante, especialmente pela zona norte carioca e municípios da Baixada Fluminense. Suas gravações exclusivas e os hits modernos do funk e do soul eram muito apreciados pelo público frequentador dos eventos, precursores dos bailes funk.
Eterno Big Boy, Newton Alvarenga Duarte faleceu precocemente, aos 33 anos, em 7 de março de 1977. Estava em São Paulo para fazer mais uma edição de seu programa na Rádio Excelsior e passou mal no Lord Palace Hotel, onde hospedava-se em suas visitas à cidade. Asmático, teve uma crise à qual não resistiu.
Sua influência no estilo de apresentar programas de rádio segue influenciando gerações de novos locutores e o mantém na posição de nosso mais importante DJ. Os bailes que iniciou continuam reunindo jovens para muito além do Rio de Janeiro. Sua marca no entretenimento que se faz no Brasil prossegue forte. O In Memoriam do Observatório da TV o homenageia. Confira o vídeo!
FONTE: OBSERVATÓRIO DA TV - UOL