A regulação das grandes empresas de tecnologia foi um dos temas em debate nesta segunda-feira em Lisboa para comemorar os 100 anos do rádio no Brasil. No seminário, que reuniu empresas brasileiras e portuguesas, o futuro da mídia ganhou destaque. E os executivos destacaram a necessidade de responsabilizar as big techs pelo conteúdo veiculado, além de chamarem a atenção para uma maior simetria nas regras entre essas plataformas e os veículos de mídia tradicionais.
Flávio Lara Resende, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que representa mais de 3,5 mil emissoras de rádio e TV, as regras têm que ser mais equilibradas.
— Que as plataformas, que exercem grande influência e possuem amplo poder de direcionamento, concorrendo pelo mercado de publicidade com TVs e rádios, observem regras mais simétricas em relação ao setor de mídia, com responsabilização, especialmente em relação às notícias falsas, impulsionadoras com fins lucrativos, e discursos de ódio — disse Resende.
O Primeiro Seminário Luso-Brasileiro de Radiodifusão foi organizado pela Abert e pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), no Dia Mundial do Rádio. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, lembrou que o consumo de informações via rádio cresceu 80% nas 13 regiões metropolitanas brasileiras, segundo dados da Kantar/Ibope Media.
Ele disse que o governo assinou mais de mil termos aditivos de migração da frequência AM para FM e informou que, em breve, 10 mil estações serão regularizadas. Agora, diz que pretende contar com auxílio do setor privado para chegar a mais ouvintes:
— A massificação do acesso à radiodifusão às regiões não atendidas é uma tarefa que pertence a todos e o governo Lula conta com a parceria do setor privado no compartilhamento de infraestrutura e custos.
Ao lembrar da importância da trajetória do rádio na consolidação da democracia, Filho traçou um paralelo com a onda de desinformação atual e endossou as empresas de comunicação como garantia de disseminação de conteúdos confiáveis e fidedignos.
Diretor executivo do grupo português Media Capital, Pedro Morais Leitão expôs o panorama em Portugal. Disse que a estratégia é encontrar formas de competir e colaborar, mas adiantou que a relação tem sido desigual, principalmente no sistema de remuneração do Google.
— Os grupos de mídia são pedintes ao pé do Google, o rei que vai distribuindo pequenas esmolas. É a atitude genérica que existe aqui — declarou.
O vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, ressaltou o trabalho envolvido na produção de conteúdo.
— Imaginem um produto feito com muito cuidado, com emprego de pessoas com inteligência, custo… Quando temos este produto pronto e acabado, com matéria-prima, horas de trabalho, gente, responsabilidade… Alguém pega esse produto na nossa prateleira, vende, monetiza e não nos dá nada. Isto é o que acontece com conteúdo jornalístico nas plataformas, infelizmente. Sabe quantos jornalistas as plataformas empregam no Brasil? Zero, porque eles estão empregados nas nossas redações, que fazem conteúdo de qualidade e com responsabilidade. Ninguém paga nada, isso não é justo — disse Tonet, membro do conselho superior da Abert.
Ele também defendeu a responsabilização como base de uma regulação das plataformas:
— A fundamental clareza que temos que ter é que quem ganhar dinheiro com informação, circulação de informação, tem que assumir responsabilidade sobre esta matéria-prima. Se eu vendo informação editada, eu tenho responsabilidade sobre ela. Não é possível vender irresponsavelmente, isso não existe em nenhum ramo de negócio.
FONTE: O GLOBO