O rádio é dono de uma das mais belas histórias dos meios de comunicação. As primeiras experiências públicas de transmissão de mensagens pelas ondas radiofônicas geraram tanta tensão e expectativa quanto os lançamentos de foguetes para o espaço, respeitando as devidas proporções, é claro. Sem dúvida seu início foi um grande acontecimento, contou inclusive com disputa pela sua paternidade, o que não é inédito na história da comunicação.
Foi longa a trajetória percorrida da mera condição de hobby de playboys até a consagração de sua popularidade e reconhecimento como espaço para divulgação comercial. O rádio já foi motivo de reuniões de amigos e de famílias, que sintonizadas na mesma frequência, consumiam coletivamente um determinado programa. O barateamento dos aparelhos de rádio deu início a um processo de consumo cada vez mais individual. Alto-falantes já não precisavam ser dispostos em praças e foram gradualmente desenvolvidos novos hábitos de consumo que se sofisticariam até que o rádio convergisse aos bunkers tecnológicos atuais.
E o que dizer da publicidade no rádio? Os clássicos spots publicitários com locuções standards e caricatas e os criativos jingles ainda dão verdadeiras aulas de adequação de mensagens comerciais às possibilidades oferecidas por esse meio de comunicação.
O rádio inicialmente aspirou ao teatro e inspirou a TV, a qual precisou aos poucos encontrar uma linguagem própria, porque o rádio já havia configurado a sua. Entretanto, com a chegada do digital essa zona de conforto se desfez. Seu planejamento, execução e edição sofreram a ação das redes de conexão. O rádio foi repaginado, ressignificado, assume nova significação social. Virou companheiro de treino, manutenção da saúde mental do motorista engarrafado na hora do rush e parceiro de toda e qualquer fila.
O ouvinte agora faz às vezes de radialista e seu formato preferido é o podcast. É o rádio de nicho, é o rádio desvencilhado dos grandes conglomerados midiáticos. É a prova de que o rádio sempre soube se reinventar. E atendendo aos apelos da sociedade imagética, os programas radiofônicos agora exibem seus bastidores. Encerro essa homenagem ao rádio com uma percepção bem particular: o rádio é terapêutico.
Texto de: Cláudia Ribeiro Monteiro Lopes | Doutora em Comunicação e Semiótica e professora do curso de Comunicação Social da Wyden.
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE