» » A importância do rádio nas dinâmicas dos povos da Amazônia




No último ano, o rádio completou 100 anos de implantação no Brasil, sendo um dos veículos de comunicação e entretenimento mais importantes quando se trata de acesso a informações. Mesmo com os avanços da tecnologia, até hoje o rádio alcança lugares que outros veículos como internet e televisão não estão presentes.

O rádio nasceu, oficialmente, durante as comemorações do centenário da Independência do país, no dia 7 de setembro de 1922, onde aconteceu a primeira transmissão de rádio no Brasil, mas a popularização mesmo só veio anos depois, quando o então presidente da República, Getúlio Vargas, aprovou uma lei que liberava o uso de propagandas durante a transmissão, fazendo com que empresários investissem mais no rádio.

Em Santarém, a primeira rádio foi inaugurada no dia 24 de outubro de 1948, a Rádio Clube de Santarém, fundada por Jônatas de Almeida e Silva, pioneira na cidade. Anos depois, veio a inauguração da Rádio Educadora de Santarém, em 1964, organizada pela então Prelazia de Santarém, e que se tornaria depois a Rádio Emissora de Educação Rural (Rádio Rural).

O rádio faz parte do dia a dia dos brasileiros, mas principalmente daqueles que moram nas regiões mais afastadas, como comunidades tradicionais, ribeirinhas e aldeias indígenas, onde muitas das vezes o rádio é o único canal de informação. Maria Vanilde Monteiro, moradora da comunidade de Carariacá, região do Lago Grande, comentou que o rádio é muito importante para as os moradores, e ressaltou que antigamente era usado também para eles mandarem avisos, um chamado para seus parentes que moravam longe, mas que isso com o tempo acabou se perdendo e que apesar das "mudanças" o rádio continua sendo muito necessário dentro dos territórios.

“As mensagem que a gente mandava, agora já não existe, está tudo mudado é só no WhatsApp, faz video chamada, mas o rádio é muito importante porque muitas coisas que a gente fica ouvindo a gente vai ficando mais informado, acontece alguma coisa nós não estamos sabendo por aqui, mas a gente liga o rádio o repórter dar informações agradáveis, às vezes não agradáveis. O rádio é muito importante na comunidade, eu gosto muito, gosto de escutar música”, conta dona Maria.

Atualmente o rádio tem passado por mudanças para continuar importante nos meio de comunicação, como a migração da maioria das emissoras para FM (Frequência Modulada), que apesar de cobrir uma área menor, tem um aumento na qualidade de som com a diminuição de ruídos e interferências, além de que muitos aparelhos hoje não sintonizam mais AM (Amplitude Modulada). Outra novidade são as rádios webs que são difundidas por meio de streaming, o acesso é pela internet e com maior qualidade comparada a transmissão de rádios analógicos.

Raik Pereira, atua desde 2021 como radialista em Santarém, trabalhou por 20 anos na rádio Rural e hoje se encontra na Guarany FM, e comentou sobre o legado que a rádio tem na região enquanto um espaço de comunicação.

“Aqui na Amazônia o rádio sempre teve seu espaço garantido nas casas das pessoas, por alguns motivos especiais: desde ouvir notícias, principalmente quando o locutor emitia suas opiniões sobre alguns temas, ouvir música, até se entreter. No passado tínhamos emissoras com vários estilos e propostas de programas. Hoje são poucas as que se propõem a comunicar para todos os públicos, mas o rádio continua sendo o veículo mais acessível, pela sua praticidade, tanto para ouvir como para transmitir conteúdos”.




Foto cedida por Raik Pereira


Ele acrescenta que mesmo com a introdução da internet, o rádio ainda é, e sempre será, o veículo de comunicação mais abrangente na Amazônia.

“Todos podem sintonizar uma estação de rádio em casa, na escola, no posto de saúde, ou até mesmo na casa de farinha ou de artesanato, por exemplo. Por esse motivo, exerce um poder maior em relação aos demais veículos de comunicação. Então, o rádio segue nessa dianteira na comunicação. Porém, hoje não é mais uma rádio que influencia a vida comunitária, mas os programas que são veiculados por ela. Infelizmente os programas que conversam com as comunidades estão cada vez mais escassos nas emissoras. Isso é um sintoma da falta de visão dos donos de estações. Vejo que quando a comunidade se identifica com tal programa, ela acaba adotando este como se fosse seu, porque falta espaço para essas comunidades transmitirem seus anseios e pensamentos”.

Rádio comunitária

Como já foi demonstrado, o rádio é um canal de informação muito importante, principalmente quando se trata dos povos da Amazônia, que possem várias comunidades afastadas, com isso muitos lugares criaram seu próprio veículo de comunicação interno, como é o caso da Vila Brasil, na região do Arapiuns.

A ideia surgiu em 2010, entre dois jovens da comunidade, Pedro Soares de Sousa e Leandro Ferreira Dias, quando eles colocaram de maneira improvisada uma caixa amplificada no alto de uma torre de telefone, a ideia foi aceita pelos moradores. A partir desse dia, iniciativas foram feitas para colocar a ideia na prática, em 2011 começou a recuperação do espaço onde seria o prédio da rádio.



Imagem cedida por Pedro Soares

No entanto a comunidade não possuía recursos financeiros para a obra, foi então que eles apresentaram a ideia para o vereador Emir Aguiar, que aprovou a iniciativa e buscou apoio para realizar a implantação, com isso, um mês depois o lugar foi revitalizado. A rádio recebeu ainda a doação de duas bocas de alto-falantes, microfones e um amplificador, do empresário Paulo Jofre (Paulinho Produções) e em novembro de 2011 ela entrou em funcionamento.

Segundo as informações cedidas por Pedro Soares, atual coordenador, a rádio foi inaugurada no dia 04 de março de 2012, recebendo o nome de Rádio Comunitária Uxicará- a Voz do Arapiuns. Nome escolhido pelos próprios moradores - Uxicará é um nome indígena que era popularmente conhecida a comunidade antes de se chamar Vila Brasil, devido os primeiros habitantes que produziam e comercializavam bastante a fruta do uixi (fruto nativo comum na região amazônica) e o cará, que é bastante plantado até os dias atuais - como consta no documentário da Rádio de Vila Brasil.




Imagem do atual espaço da Rádio Comunitária, em Vila Brasil. Foto cedida por Pedro Soares


A nova coordenação vem desenvolvendo através de parcerias a construção do novo prédio da rádio, com o apoio dos comunitários. O espaço ainda está sendo construído, além disso a coordenação está atrás de novos recursos para a compra de materiais onde funcionarão os estúdios como: matérias de escritório, computadores e equipamentos para o estúdio e também construir uma torre que possivelmente pode tornar uma rádio FM comunitária.

“Nas localidades sem internet, o rádio acaba sendo o meio mais importante de comunicação, sim. Mas, repito, não a emissora, e, sim, determinados programas, que nem sempre são da rádio. É por esses programas que muitos se inspiram e vão à luta, se organizam e se mobilizam para lutar por seus direitos”, comenta Raik Pereira.

É preciso valorizar esse veículo de comunicação, informação e entretenimento tão importante e presente no dia a dia da população brasileira, mas principalmente para os povos e comunidades da Amazônia.

FONTE: TAPAJÓS DE FATO

Postado por César Oliveira

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