Em mais um ato de repressão sobre o jornalismo no Afeganistão, a rádio afegã Sadai Banowan, única do país dirigida por mulheres e com programação dedicada a elas, foi fechada por mais de uma semana e voltou a operar depois que o caso ganhou visibilidade internacional.
O chefe do departamento de informação e cultura da província de Badakhshan, Moazuddin Ahmadi, informou à imprensa local que a rádio foi punida por transmitir música no mês sagrado do Ramadã e ter funcionários homens trabalhando junto com as mulheres.
A jornalista Najla Shirzad, fundadora e diretora da estação de rádio, no entanto, negou transmitir música e violar a política do Talibã.
Shirzad disse achar que a decisão era uma retaliação aos programas da estação com foco na educação feminina e oportunidades de emprego em Badakhshan.
A emissora teve as instalações lacradas, e o fechamento só foi revogado depois de a rádio assumir o compromisso de não repetir as violações das regras de mídia estabelecidas pelo Talibã.
A Sadai Banowan, que significa voz de mulher na língua local Dari, foi fundada em 2014. A administração local do Talibã permitiu que a rádio reiniciasse as operações pouco depois de o grupo retomar o poder, em 2021.
O caso despertou atenção de organizações internacionais de liberdade de imprensa, por simbolizar ao mesmo tempo a repressão do regime Talibã às mulheres e ao jornalismo no Afeganistão.
“As organizações de mídia feminina são essenciais para que o povo de Badakhshan”, disse Mohibullah Sayedi, chefe do comitê de proteção aos jornalistas da região.
“O Talibã deveria reverter imediatamente sua decisão de fechar a emissora Radio Sada e Banowan e permitir que o canal reabra e funcione livremente”, disse o coordenador do programa do Comitê de Proteção a Jornalistas para a Ásia, Beh Lih Yi.
“O Talibã privou as mulheres afegãs de tudo, de empregos a educação. Fechar uma estação de rádio dirigida por mulheres mostra que não há alívio para a mídia afegã, mesmo durante o mês sagrado do Ramadã. O Talibã deve corrigir seu curso e parar de reprimir o jornalismo”.
FONTE: MEDIA TALKS - UOL