Quando, na metade do século passado, Januário Carneiro decidiu fundar a Itatiaia, seguramente muitos o chamaram de doido, por considerarem a coincidência de seu sonho com a chegada da televisão que decretaria o fim do rádio. Sete décadas depois, as enchentes do Rio Grande do Sul atestam a importância do veículo e não deixam dúvidas - pelo menos para os que amam – que ele é eterno.
Decretaram o fim do rádio (na sua melhor versão, o AM, que permitia mandar abraços e recados) também nos anos 60, por conta da chegada do FM, com qualidade de som. Trinta anos depois, advento da internet, a pergunta mais repetida era o que seria do rádio.
As maiores emissoras, como Jovem Pan, Bandeirantes e Itatiaia fizeram então o clone, ou seja, juntaram as frequências de forma a transmitir simultaneamente no AM e no FM, ampliando a audiência e juntando o charme com a qualidade de som. Ao comunicar a fusão, Emanoel Carneiro sentenciou: “Estamos indo para a Savassi, mas, sem tirar o pé da Lagoinha”.
Queria dizer que tínhamos de nos adaptar à maior exigência do público do FM, mas, poderíamos e deveríamos continuar mandando abraço e privilegiando a linguagem coloquial, amiga. No começo desse século, chegaram os portais de notícia, que estão matando o jornal impresso aos poucos, mas, o rádio, esse resistiu. E anunciaram o digital, algo mais sofisticado na técnica. Não chegou até hoje. O rádio não parou.
Agora, no Rio Grande do Sul, quando, em determinado momento, mais de 250 mil pontos ficaram sem internet por conta das enchentes, os radinhos de pilha se tornaram essenciais para que as pessoas tomassem conhecimento do que ocorria à sua volta e das providências que as autoridades estavam tomando. Algo tão sério que duas universidades se uniram para recolher doações de rádios a pilha e distribuí-los nas áreas mais remotas.
Nós, da Itatiaia, sabemos bem o que está acontecendo em terras gaúchas. Aqui, fizemos coberturas históricas no desabamento da Gameleira, no desmoronamento da Barraginha, nas barragens derramadas de Mariana e Brumadinho, nas enchentes do Arrudas, da Tereza Cristina e do Vilarinho, no sequestro do coronel e em outras ocasiões, nas quais não apenas transmitimos, mas, nos tornamos ponte entre quem precisava e quem podia ajudar.
O rádio é para sempre... Um companheiro de todas as horas para quem ouve e paixão necessária para quem faz.